segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Veneno de rato, álcool e colírios

Ela não estava nada bem, já havia pensado em todas as coisas ruins possíveis para fazer para poder parar de sofrer. Não. Não encontrou nenhuma forte o bastante. Queria algo que acabasse com aquela dor, mas queria que fosse aos poucos. No fundo, sentia um certo prazer com aquilo tudo. Ouviu a mesma música umas oitocentas vezes. Derramou lágrimas cada vez que ouviu o refrão. Foi para a cozinha, depois lavanderia, depois banheiro, mas foi sobre a mesa que encontrou tudo, perfeitamente do jeito que queria. Perfeitamente do jeito que precisava: Um líquido azul contido dentro de um vidro transparente com o desenho de um rato e de uma caveira no rótulo, um litro de álcool etílico e ao lado do vaso de flores, uma foto da pessoa que a fizera sofrer tanto naquele dia. Pegou os três. Voltou para seu quarto, ligou a TV em um canal fora do ar. Postou em seu microblog a seguinte palavra: "FUI". Foi curta e grossa. Direta e reta. Ou era ou não era. Na sequência, desligou a tela do computador, sentou-se na cama com o vidro "azul" na mão esquerda e a foto na mão direita. Trocou. Esqueceu. Lembrou. Colocou os objetos sobre a cama e correu até a cozinha. Abriu a geladeira e pegou o litro de Coca-Cola. Pegou dois copos e voltou para o quarto. Não estava sozinha, carregava consigo o litro e as lembranças do tempo em que passou com o ex. Fechou a porta do quarto, voltou para a cama, encheu, até a metade, um copo com o líquido azul e o outro com suas lágrimas. Fez uma loucura. Ou não. Picou a fotografia do ex-amado e mil pedaços e comeu. Completou o copo "azul" com Coca-cola. Misturou. O líquido havia ficado, não se sabe o porque, vermelho, cor de sangue. Pensou. Parou. Pensou de novo. Parou. Virou o copo "vermelho". Bebeu. Até o último gole. Tinha gosto de vida. Suspirou, com medo. Deitou na cama. Se cobriu. A estampa do cobertor era de zebra. Fechou os olhos. Pensou que havia partido. Não ainda. Não agora. Sentiu dor nos olhos. Começou a lembrar de sua infância. Não era muito, ela tinha, agora, doze anos de idade. Seu ex aparecia em todas as lembranças, com o mesmo sorriso da foto. Lembrou, ainda, que toda vez que olhava para ele, seus olhos doíam. Lembrou que seu coração se partia, cada vez que não o via. Percebeu, finalmente, que seu lugar era realmente ao lado dele. Tão Tarde. Morreu. #Foi.